ARECACEAE

Euterpe edulis Mart.

Como citar:

Pablo Viany Prieto; Tainan Messina. 2012. Euterpe edulis (ARECACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

VU

EOO:

2.032.897,397 Km2

AOO:

760,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Detalhes:

No Brasil a espécie ocorre em Cerrado e Mata Atlântica, nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul (Leitman et al., 2012).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2012
Avaliador: Pablo Viany Prieto
Revisor: Tainan Messina
Critério: A1acd
Categoria: VU
Justificativa:

<i>Euterpe edulis</i> é uma palmeira amplamente distribuída, ocorrendo de forma contínua ao longo de toda a Mata Atlântica e também em parte do Cerrado. Em áreas de Florestas Úmidas bem preservadas, <i>E. edulis </i>geralmente<i> </i>apresenta uma elevada abundância, podendo formar grandes subpopulações. Entretanto, diversos fatores indicam que se trata de uma planta ameaçada de extinção. <i>Euterpe edulis</i> é uma espécie não cespitosa, de crescimento lento, sem capacidade de rebrota e dependente de florestas bem preservadas; além disso, vem sendo sistematicamente submetida a uma intensa exploração para a extração do palmito em praticamente toda a sua área de distribuição. A extração ocorre por meio da derrubada dos indivíduos adultos, preferencialmente aqueles de maior porte, e a subsequente retirada do meristema apical, levando à morte das plantas. Em vários remanescentes de Mata Atlântica, é possível encontrar claros vestígios da extração irresponsável da espécie, como um grande número de indivíduos maduros derrubados. Em muitos casos, todos os indivíduos adultos de uma área são explorados, levando à extinção da subpopulação. Além disso, é possível suspeitar que a drástica redução na extensão da Mata Atlântica e o elevado grau de degradação de grande parte dos remanescentes de floresta tenham contribuído para uma redução no tamanho populacional e na AOO da espécie. Vários estudos demográficos apontam para uma baixa taxa de crescimento dos indivíduos, que podem levar vários anos (>10) para atingir a maturidade; assim, a idade média dos indivíduos adultos em uma subpopulação é estimada em 20 anos. Devido a isso, é possível suspeitar que <i>E. edulis</i> tenha sofrido um declínio populacional de pelo menos 30% ao longo de três gerações, que correspondem a um período de tempo de 60 anos.

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Espécie descrita na obra Hist. Nat. Palm. 2(2): 33-34, t. 32. 1824. Conhecida popularmente como "içara", "palmito-doce", "palmito-juçara", "juçara", "palmiteiro", "ensarova" e "ripeira" (Lorenzi et al., 2010).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: Schattan e Kotona (2004) comentam que o Brasil é o maior produtor mundial de palmito, respondendo por 85% de todo o palmito comercializado no exterior. De acordo com os autores, em 1993, 1994 e 1995, os preços aumentaram, atingindo U$3,13, U$3,34 e U$4,85 respectivamente. No entanto, as exportações declinaram no mesmo período, de 11 mil para 6 mil toneladas/ano. Segundo eles, atualmente, 90% da produção de palmito do país se refere ao açaí do baixo Amazonas e 10% à juçara do sul do país, especialmente Paraná, Santa Catarina e São Paulo (vale do Ribeira). Tanto num caso como no outro, a produção advém de extração predatória. Segundo Reis et al. (2002), os dados oficiais sobre produção e consumo de palmito no Brasil são apenas estimativas. Contanto, as 40 mil toneladas anuais, correspondem a um mercado interno de mais de 400 milhões de dólares, apesar de que somente 10% desse total é produzido a partir de Euterpe edulis.

População:

Detalhes: Mafei (2011) compilou dados de estudos demográficos da espécie realizados por diferentes autores em diferentes áreas de ocorrência. Na Fazenda Intervales, no Vale do Ribeira, São Paulo, Fantini et al (1993) observaram um total de 103,2 adultos por hectare e 6.530 plântulas. Em Blumenau, Santa Catarina, foram encontrados 56 adultos e 12.565 plântulas por hectare em flores ombrófila densa montana por Reis et al. (1996). No Parque Estadual da Ilha do Cardoso, foram encontrados 6.819 e 4.042 plântulas por hectare e 227 e 132 adultos por hectare, em mata de planície e mata de encosta, respectivamente (Kojima, 2004). No município de Una, Bahia, Silva et al. (2009) encontraram 450 plântulas e 73 adultos por hectare. Tonetti (1997) encontrou uma média de 1290 plântulas e 8,5 adultos por hectare em Paranaguá, Paraná. Um grande número de indivíduos reprodutivos também foi encontrado no estudo de Fisch (1998) em Pindamonhangaba, São Paulo. Seoane et al. (2005), utilizando-se de dados da estimativa de número de adultos por hectare e as estimativas de área do fragmento florestal e da floresta contínua estimaram que existam 192 e 189 indivíduos adultos por hectare na população isolada e contínua, respectivamente e 240 e 1.315.360 indivíduos adultos na área total do fragmento e na floresta contínua como um todo, respectivamente. De acordo com Pires (2006) apud Portela (2008) a espécie ocorre naturalmente em alta densidade (100 a 500 indivíduos/hectare) em áreas bem preservadas. Cardoso (2000) afirma que a conservação desta espécie não é crítica, mas as subpopulações são muito distintas geneticamente. Sugere que as prioridades para conservação levem em conta as variações genéticas populacionais. As subpopulações que apresentam maior variação genética intrapopulacional são de Guaraqueçaba, Itatiaia, Desengano e Una.

Ecologia:

Biomas: Cerrado, Mata Atlântica
Fitofisionomia: A espécie apresenta distribuição preferencial em Floresta Ombrófila Densa, ocorrendo também na maior parte das formações Estacional Decidual e Semidecidual (Mafei, 2011)
Habitats: 1.9 Subtropical/Tropical Moist Montane, 1.5 Subtropical/Tropical Dry
Detalhes: Espécie de caule sempre solitário (Leitman, com. pess.), liso, colunar, de 5-12 m de altura e 10-15 cm de diâmetro, com flores unissexuadas de ambos os sexos dispostos na mesma inflorescência. Frutifica de maneira abundante nos meses de março a junho e a germinação da semente leva de três a seis meses (Lorenzi et al., 2010). Ocorre tipicamente em solos mais úmidos e é olerante a sombra (Portela, 2008).

Ameaças (8):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.3 Regional/international trade
Segundo Reis et al. (2002), a utilização comercial da espécie teve início de forma intensa no século XX. De acordo com Cervi (1996) apud Reis et al. (2002), a pressão industrial de palmito introduziu a extração intensiva e em larga escala já na década de 1930. Ao longo da década de 1970 a exploração tornou-se tão intensa (corte de matrizes e plantas jovens) que a regeneração da espécie não era suficiente para atender a demanda da matéria-prima da empresas. Deste modo, muitas empresas faliram ou se transferiram para o norte afim de explorar Euterpe oleraceae (Reis et al., 2002).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.3.2 Selective logging national
Segundo Andrade et al. (2012), Euterpe edulis é o segundo maior produto não madeirável mais explorado da Mata Atlântica.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
9.3 High juvenile mortality local
O estudo de Matos et al. (1999) revelou um padrão de J invertido na dinâmica populacional de Euterpe edulis, indicando alta taxa de mortalidade de plântulas e indivíduos jovens. Muitos outros autores fazem a mesma afirmação em seus trabalhos, indicando que este padrão pode ser considerado para a grande maioria das localidades de ocorrência da população.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.3 Regional/international trade national
De acordo com Mafei (2011), a espécie possui características favoráveis para o manejo florestal. No entanto, devido a exploração, hoje a espécie se encontra localmente extinta ou com as subpopulações perigosamente reduzidas. Ainda de acordo com Mafei (2011), por ser uma palmeira de tronco solitário e que não se regenera ao ser cortado, a retirada do palmito acarreta na morte da planta.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.2 Sub-national/national trade local
Segundo Nogueira (2003) no Parque Estadual "Carlos Botelho", no Vale do Ribeira, a exploração clandestina da espécie era comum em algumas áreas, como Saibadela, Guapiruvu, Grota, Rio Preto, Travessão e Ribeirão Fundo. Segundo a autora, esses locais de pressão são áreas onde a rede organizada de palmiteiros atua de maneira intensa, inclusive amparados com armas de fogo. A autora apresenta dados de apreensão de palmito fornecidos pela Polícia Ambiental de Registro (2003), no período de 2002 e 1º semestre de 2003 para os Parques Estaduais "Carlos Botelho" e Intervales. Foram apreendidos em total de 1509 palmitos in natura e 1227 palmitos industrializados que estavam em vidros.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1 Habitat Loss/Degradation (human induced) national
Os remanescentes de Mata Atlântica, até 2010, dos principais Estados de ocorrência da espécie são: Bahia 8,50%, Espírito Santo 10,36%, Rio de Janeiro 18,38%, São Paulo 14,41%, Minas Gerais 10,04%, Paraná 9,97% e Rio Grande do Sul 7,46% (SOS Mata Atlântica, 2011)
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.2 Sub-national/national trade national
Segundo Reis et al. (2002), apenas a partir de 1993 os planos de manejo foram implementados. Sendo assim, até 1993, a estimativa era de 4 mil toneladas anuais de consumo de Euterpe edulis, 27.009 hectares de área total de corte anual (subpopulações pouco alteradas da espécie, com rendimento médio em torno de 148,1 Kg de palmito por hectare) e 160.000 hectares (subpopulações já alteradas, com rendimento médio em torno de 25 Kg por hectare). Os autores ainda afirmam que, o volume comercializado apenas no Estado de São Paulo é estimado em mais de 600 toneladas por ano de Euterpe edulis (o que representa o corte de uma área entre 4.051 e 24.000 hectares, apenas para atender a capital).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.2 Sub-national/national trade
No sul da Bahia a retirada ilegal de palmito ainda é bastante comum, mesmo dentro das unidades de conservação como Rebio, Una e o Parke Nacional Serra das Lontras (Leitman, com. pess.).

Ações de conservação (8):

Ação Situação
4.1 Maintenance/Conservation needed
Cardoso (2000) afirma que a conservação desta espécie não é crítica, mas as subpopulações são muito distintas geneticamente. Sugere que as prioridades para conservação levem em conta as variações genéticas populacionais. As subpopulações que apresentam maior variação genética intrapopulacional são de Guaraqueçaba, Itatiaia, Desengano e Una.
Ação Situação
5.7 Ex situ conservation actions on going
Existem 5 indivíduos em cultivo no arboreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Leitman, com. pess.).
Ação Situação
1.2.1.2 National level on going
A espécie foi considerada "Em perigo" (EN) na Lista vermelha da flora do Brasil (MMA, 2008), anexo 1.
Ação Situação
1.2.1.3 Sub-national level on going
A espécie foi considerada "Vulnerável" (VU) na Lista vermelha da flora de Minas Gerais (COPAM-MG, 1997), na Lista vermelha da flora de São Paulo (SMA-SP, 2004), e na Lista vermelha da flora do Espírito Santo (Simonelli; Fraga, 2007). Também foi considerada "Em perigo" (EN) na Lista vermelha da flora do Rio Grande do Sul (CONSEMA-RS, 2002).
Ação Situação
1.2 Legislation on going
Segundo Reis et al. (2002), o Instituto Agronômico de Campinas e o Instituto Floresta de São Paulo, desenvolveram importantes estudos que permitiram fundamentar políticas na década de 1970, assim como o Núcleo de Pesquisas em Florestas Tropicais da Universidade Federal de Santa Catarina na década de 1980.
Ação Situação
1.2.1.3 Sub-national level on going
A Resolução CONAMA nº 294, de 12 de dezembro de 2001, estabele normas e critérios para a exploração de Euterpe edulis no Estado do Paraná (Intrução Normativa nº35, 2008). Quanto ao Estado de São Paulo, a Resolução SMA 16 dispõe sobre o Plano de Manejo Sustentado da espécie, e a Resolução 52 dispõe normas para a extração seletiva de plantas nativas que pode ser aplicada a coleta dos frutos destinados a polpa de "juçara" (Mattoso et al., 2007). De mesma forma, a Resolução SMA 16 de 21 de Junho de 1994 estabelece normas para a exploração da espécie no Estado de São Paulo.
Ação Situação
1.1 Management plans on going
O plano de manejo do Parque Estadual da Serra do Mar, aprovado em 2006, definiu como ação estratégica para os programas de proteção, patrimônio natural e interação sócioambiental, a recuperação das subpopulações de palmito e o desenvolvimento de alternativas para seu manejo sustentável na área de influência do Parque. De mesma forma, a Fundação Florestal apresenta uma conjunto de iniciativas para a recuperação do "palmito juçara" na Serra do Mar e Vale do Ribeira (Mattoso et al., 2007).
Ação Situação
5.3.1 Harvest management on going
Segundo Andrade et al. (2012), a Fazenda Multiambiental na Reserva Particular do Patrimônio Natural de Tapiraí possui grande capacidade de produção de sementes. Possui cerca de 2600 plantas já em fase de corte, além de 50 mil mudas em apenas 1 hectare.

Ações de conservação (4):

Uso Proveniência Recurso
Confecção de ferramentas e utensílios
​A madeira é utilizada paraa produção de ripas para construção (Mattoso et al., 2007).
Uso Proveniência Recurso
Alimentício
O palmito é extraído domeristema apical deEuterpe edulis. O palmito pode ser consumido em conserva ou em creme (Mattosa et al., 2007).
Uso Proveniência Recurso
Confecção de ferramentas e utensílios
Sementes da espécie são usadas em artesanato, assim como a ráquis e a espatide (Mattoso et al., 2007).
Uso Proveniência Recurso
Alimentício
​Segundo Mafei (2011), maisrecentemente vêm sendo realizadas propostas de extração sustentável de frutosda espécie para a produção de polpa para sucos e vitaminas, principalmente nosul e sudeste do Brasil.